Quem diria que, na roda estonteante do tempo, também eu ultrapassaria mais um ano!
É por isso que nos alegramos ao rasgar a última folha do calendário e contagiamos os mais incrédulos com saudações alegres que confortam e dão ânimo para mais uma caminhada, até Deus querer!
O ano que agora começa pode representar, apesar de tudo, um factor de criatividade e dinamismo, para a mudança necessária que todos ambicionamos, desde que não se coloque em causa princípios e direitos essenciais adquiridos a muito custo por nós e pelas gerações que nos precederam.
Também no caso vertente dos Açores, “há mais vida para além da crise”, como disse o antigo Presidente Sampaio.
Cabe-nos a nós, descobrir novas formas de desenvolver a nossa economia que passa por um período de recessão nalguns sectores e de estagnação noutros.
No sector do turismo há quem acredite que 2013 constituirá um ano de maior procura pelo destino Açores. Há cada vez mais segmentos dos mercados norte-americanos e europeus que optam pelos destinos exóticos e de natureza.
Ainda há dias, uma publicação norte-americana da especialidade apresentava os Açores como destino singular, de qualidade e barato. Face às reportagens e artigos de promoção turística publicados em meios de comunicação social de grande expansão, não é de admirar que a procura aconteça a partir deste ano. Unidades hoteleiras de grande e pequena dimensão já existem e há pequenos empresários que investiram as suas poupanças, apostando no turismo rural, recuperando casas típicas onde outrora viveram os nossos antepassados e que oferecem excelentes condições de habitabilidade e de conforto.
Enquanto alguns países nórdicos, há já alguns anos, oferecem esse tipo de alojamento, nós demorámos mais tempo a perceber que esse era um filão que tinhamos de explorar.
No trimestre anterior, as estatísticas assinalaram o decréscimo do turismo em todas as Ilhas, excepto no Pico. Houve até um diário terceirense que se interrogou sobre as causas do sucedido.
As respostas não estarão, certamente, na quantidade de voos directos de médio e longo curso que se limitam, incompreensivelmente, a um toque semanal; não se devem à redução do preço das tarifas aéreas e das diárias na hotelaria tradicional; também não creio que seja porque os profissionais da hotelaria e restauração têm uma qualidade excecional no trato e no serviço aos clientes.
Atribuo as razões de tal acréscimo a duas componentes que, a meu ver, fazem toda a diferença: A Ilha do Pico é dotada de uma Montanha mágica – Património da Humanidade - que impera sobre a paisagem singular, onde a rudeza do basalto, de onde nascem deliciosos vinhos e uma flora endémica pujante. Estes são aliciantes a que ninguém fica indiferente.
Quando Raúl Brandão, em As Ilhas desconhecidas afirmava que a terra do Pico cheira, ele acentuava que as melhores impressões dos visitantes perduram pelos aromas e paladares que a natureza e a gastronomia oferecem.
A idiossincrasia, a maneira peculiar de ser e de estar, a franqueza, o acolhimento, a entreajuda, o trato fácil e aberto são qualidades dos picoenses, que suplantam os serviços mais requintados.
Os turistas estrangeiros que se deslocam ao Pico e optam pelo turismo rural, com dezenas de unidades instaladas em redor da ilha, encontram aí um trato familiar e simples que os contagia e fascina, a par da observação da natureza, da paisagem, da observação dos cetáceos e dos passeios pedestres. Este é o “segredo” do turismo no Pico.
A empatia com os visitantes é mais eficaz do que a simpatia aparente.
São estas qualidades, que o relacionamento humano valoriza e reconhece, que irão potenciar o destino Açores.
Tenho esperança de que, dando a primazia ao acolhimento dos visitantes, alteremos o paradigma desta actividade que parece ter-se preocupado mais em rentabilizar, de imediato e a qualquer preço, os investimentos. O destino Açores só terá futuro se fôr reconhecido por uma componente humana muito forte.
Voltar para Crónicas e Artigos |